quarta-feira, 28 de março de 2012


Estive longe por algum tempo, perseguindo os chãos de concreto, respirando o aroma sórdido das cidades em movimento, uma caminhada a passos lentos me procurando em mim. Rasguei centenas de véus que escondiam faces mas nunca encontrei a veracidade, apenas feições embutidas em uma versão ilusória e rostos afundados em profundo langor. Canaletas úmidas eram quase como armadilhas encaçapando poças de água e aprisionando reflexos frios de imagens sempre apressadas... Buscava algo que ainda respirasse, algo que talvez não estivesse submisso ao ciclo daqueles dias monótonos, longe das janelas embaçadas e dos murmúrios de agitação que cegavam a alma. Mas era certo que não estava tão longe, ainda via-se no desfocado do campo de visão, a existência do que habitava lá dentro, que insistia timidamente a soerguer mesmo as pedras de cimento armado, enraizando-se para o alto, lírios em perfume e cor. Pena que poucos eram os conseguiam notá-los, pena que tantos são os que vivem sem conhecer a arte do se fazer vivo.


                                                                                                                          Adelle Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário