Ele
não tinha mais a mesma vitalidade de antes. Nem tampouco a ousadia
de sonhar. Passava o dias jogado a sensação da natureza bruta,
alimentado-se ao cheiro do vento, embebecido das memórias que lhe
desnorteavam os sentidos.
– Se ela
não pode, também não posso voltar.
Permanecia
preso a mesma ideia que ninguém parecia compreender.
Voltava
todas as manhãs a velha casa … sempre uma igual sensação o
sufocava. Presa entre aquelas paredes ainda estavam cenas de um
passado que nunca acabou. Vinha repentinamente uma saudade, mas uma
saudade do tipo triste, revirando memórias que acreditava-se que
deveriam ser esquecidas.
Agia
ordenadamente, quase como um ritual. Primeiro, escorregava a mão
pelos móveis de carvalho, sentindo a textura das peças intactas no
andar do tempo. Seguia até o fim do corredor, se deparando frente a
uma parede recoberta por lençol, puxava de maneira sutil, passava
alguns minutos em um olhar fixo para si mesmo, reposicionava os
óculos em simples gesto de vaidade e lançava sobre o enorme vidro o
mesmo tecido branco, como quem quisesse esconder algo.
Falavam
da solidão, uma dor que parecia incomodar apenas os que assistiam de
fora.
Perguntavam sobre a angústia de ser só.
– Esqueça!
Ia
implorando com lábios quase imóveis, enquanto repetia as mesmas
emoções do toque daqueles objetos.
Estava
parado frente ao antigo espelho, quando em retirada, viraram as
costas sem qualquer resposta. Em ímpeto, ele então afirmou :
– Depende
do que se cria e criei estar intermediário. Talvez hoje eu nem seja
mais eu. Sinto-me fora ao que faz a vida se materializar, mas não
me sinto distante muito pelo contrário.
– Se ela não pode, também não posso voltar. Ficamos assim presos, eu a morte e ela a vida, mas um ao outro.
E
antes mesmo que novamente questionassem, compreendeu com sagacidade a
expressão daquelas faces, rindo em tom sereno.
– Quanto
aquela parede... escondo o desnecessário. A alma não se reflete ao
espelho.
Adelle Silva
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