sábado, 19 de maio de 2012

Apanhadores de imagem

 Capítulo I

    De dentro das janelas       

        O barulho ressoando do viver das coisas, agia sobre a nostalgia de se estar trancado enquanto tudo passa lá fora. Edifícios faziam carrosséis de imagens que acendiam, apagavam, vertiginando os incansáveis observadores de chuviscos de luz. 

           Soava torpe o amor. Se existiam fadas, já não se sabia. Não do lado de cá. 

      Talvez onde eram translúcidas as imagens em movimento inopino, chamuscando sombras da arte daquilo que se repete. Haveria vida. 


      O cair dos dias era serôdio¹, imitando o tempo do que é vazio. Iam então capturando cenários, fantasiando histórias, criando próprias versões sobre os manequins de pernas apressadas. Intermitente o sol saia em fuga dando chance as linhas de luz nos falsos horizontes verticais. Surgiam em ímpeto; a noite causa espanto aos olhos. 


      Não enxergar as coisas desperta o sentimento do esquecer. Tanto é que se sonha. Aquelas faces coladas na vidraça também eram sonhos, dos que se tem ou dos que se toma emprestado. Iam então fazendo uso daquilo que não os pertencia. De dentro das janelas tudo era calmo, distante das passagens movimentadas que eram as esquinas, das lágrimas, vozes e abraços dos que quase nunca se veem. Mas lá havia vida e das melhores, dessas que se sente.

1 serôdio: que acontece tardiamente; fora do tempo. 

Adelle Silva

                                                                                                                                                          

                                                                                                                                       

2 comentários:

  1. Oi Adelle tudo bem?
    Viajei lendo seu texto agora, parabéns pelo sua qualidade de produção!
    Mil bjus, seguindo, retribui?

    www.senhordoseculo.com

    ResponderExcluir