sábado, 16 de junho de 2012

Nosso mal repugnante


 A televisão conversa com as paredes e mesmo elas acham que não se entendem, uma só ouve, a outra só fala... meu devaneio ao acordar de um daqueles sonhos dos quais não se lembra por onde andou.

Passei o dia com olhos meio de sono, uma preguiça constante na alma. E as vezes sofro desse mal repugnante. Um desenhar de palavras, um acumular de folhas que desisti de escrever, é como quase uma impaciência que me toma, um surto de apagar linhas, a agonia de não saber o que dizer para as crianças em uma historia ilustrada. Cai no meu esquecer como é ser uma, esse envolvimento nos mundos adultís ou mesmo não saber mais onde elas moram.

Vejo algumas esculturas, coisas completamente tortas encaixadas umas sobre as outras, círculos em círculos e universos da vida dos autores que saltam assim, irregulares, descontínuos como uma de Klimt se desdobrando em perfeição.

Lembro de “O Beijo”, uns trechos de Assis e me vem também uma das canções de Nelo Johann. Desconecto-me totalmente do parágrafo anterior com a ideia que me trazem sobre partidas, despedidas: “Ir é ser esperado por dois lados, o que se quer que chegue e o que se quer que volte. Ficar é como ser levado, é ir e voltar sem saber que se foi, é ser esperado por um só lado. Lado que se quer estar.”

Penso em voz alta, quase um grito. A esse ponto, já ultrapassei a televisão e também as paredes. Falo para os ouvidos que são meus, ouço uma agonia própria e nem eu me entendo. Nós as vezes não.
Adelle Silva

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