A televisão conversa com as paredes e mesmo elas acham que não se
entendem, uma só ouve, a outra só fala... meu devaneio ao acordar
de um daqueles sonhos dos quais não se lembra por onde andou.
Passei o dia com olhos meio de sono, uma preguiça constante na alma.
E as vezes sofro desse mal repugnante. Um desenhar de palavras, um
acumular de folhas que desisti de escrever, é como quase uma
impaciência que me toma, um surto de apagar linhas, a agonia de não
saber o que dizer para as crianças em uma historia ilustrada. Cai no
meu esquecer como é ser uma, esse envolvimento nos mundos adultís
ou mesmo não saber mais onde elas moram.
Vejo algumas esculturas, coisas completamente tortas encaixadas umas
sobre as outras, círculos em círculos e universos da vida dos
autores que saltam assim, irregulares, descontínuos como uma de
Klimt se desdobrando em perfeição.
Lembro de “O Beijo”, uns
trechos de Assis e me vem também uma das canções de Nelo Johann.
Desconecto-me totalmente do parágrafo anterior com a ideia que me
trazem sobre partidas, despedidas: “Ir é ser esperado por dois
lados, o que se quer que chegue e o que se quer que volte. Ficar é
como ser levado, é ir e voltar sem saber que se foi, é ser esperado
por um só lado. Lado que se quer estar.”
Penso em voz alta, quase um grito. A esse ponto, já ultrapassei a
televisão e também as paredes. Falo para os ouvidos que são meus,
ouço uma agonia própria e nem eu me entendo. Nós as vezes não.
Adelle Silva
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